sexta-feira, 9 de outubro de 2015

IMPACTOS SOCIAIS E AMBIENTAIS DO CASO VOLKSWAGEN

1 - ASPECTOS JORNALÍSTICOS, QUIMICOS E AMBIENTAIS DO CASO.

Vocês vão ler uma postagem longa, mas interessante tanto sob o aspecto de como a sociedade civil organizada é importante no seu papel de denunciar quanto ao aspecto do uso de tecnologias sofisticadas para beneficiar empresas no mercado competitivo e passar por cima de leis ambientais.

A Volkswagen e a Audi (do mesmo grupo) desrespeitaram a Lei do Ar Limpo (Clean Air Act, que foi estabelecida em 1970 e revista em 1977 e 1990), dos EUA. Elas produziram e venderam cerca de 11 milhões de veículos movidos a óleo diesel de quatro cilindros (fabricados entre 2009 a 2015), com um software que consegue “iludir” os mecanismos de medição das emissões, que foram normatizadas pela EPA (Environmental Protection Agency), que é a Agência de Proteção Ambiental dos EUA.

O mecanismo utilizado para diminuir e adequar às leis ambientais americanas de emissão de poluentes na atmosfera pelos CARROS A DIESEL levou o principal executivo da empresa, nos Estados Unidos (Michael Horn), a se demitir, no dia 23 de setembro de 2015.
 Para se ter uma ideia, os principais poluentes focados pelas legislações dos países de emissões veiculares são: os Óxidos de Nitrogênio (NOx), Material Particulado (PM), Monóxido de Carbono (CO) e Hidrocarbonetos (HC).

Historicamente, no período 2004-2007, os EUA passaram a ter maior rigor na emissão de NOx. As emissões dos óxidos de nitrogênio (que incluem Óxido de Nitrogênio –NO; Dióxido de Nitrogênio - NO2; Óxido Nitroso – N2O; Trióxido de Dinitrogênio – N2O3 e Pentóxido de Nitrogênio – N2O5) são quatro vezes maiores em comparação com as dos veículos a gasolina.

Em janeiro de 2010, com a implementação do padrão de emissão conhecido como US2010, foi estabelecido, nos EUA,  o limite de emissão de NOx em 0,3 g/kWh .

No Brasil, para efeito de comparação, esse limite, conforme PROCONVE (Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores), criado em 06 de maio de 1986, pela Resolução nº 18 do CONAMA e coordenado pelo IBAMA, estabeleceu-se que os limites de emissões de NOx é de 0,08 g/km para veículos leves de passageiros e veículos comerciais igual ou abaixo de 1,7 ton. e para veículos comerciais acima de 1,7 ton. o valor está entre 0,25 (ciclo Otto) e 0,35 (ciclo Diesel) é de 0,35 g/km (conforme Resolução nº 415, de 24 de setembro de 2009; que foi publicada no DOU nº 184, de 25/09/2009, págs. 53-54).

Como vocês podem notar as unidades de medida adotadas pelos dois países são muito diferentes e, apesar de procurar muito, não encontrei a equivalência entre kWh e km. No entanto, encontrei um estudo do Ministério do Meio Ambiente, sobre a Resolução 315, do Conama, que apresenta/estabelece o limite de 3,5 g/KWh na fase P-6, a partir de 2009 (fonte: http://www.mma.gov.br/port/conama/legislacao/CONAMA_RES_CONS_2002_315.pdf, p.488). Pelo estudo, se observa que esse valor é 10 vezes maior, no Brasil.

Outra questão importante, no caso da Volkswagen é o papel da sociedade civil organizada. Quem levantou a pista sobre as práticas da VW foi a ICTT – Conselho Internacional do Transporte Limpo, uma pequena ONG americana independente. Ela decidiu realizar um estudo para mostrar como o diesel poderia ser um combustível limpo e se juntou com a Universidade de West Virginia, nos Estados Unidos. Começaram a analisar 3 carros: um Jetta 2012, um Passat 2013 e um BMW X5, que rodaram cerca de 4.000 km entre a Califórnia e o estado de Washington. Com isso, eles constataram discrepâncias entre o nível de emissão observado e os números dos testes oficiais dos modelos da Volkswagen. 




Fonte: http://pplware.sapo.pt/informacao/o-escandalo-das-emissoes-da-volkswagen-explicado/


Em 2014, O ICCT e a Universidade de West Virginia alertaram a Agência de Proteção Ambiental (EPA), do governo federal, e o Conselho de Emissões da Califórnia (CARB) sobre a descoberta.
A EPA relatou que, nos Estados Unidos, os seguintes modelos TDI foram afetados: Golf, Jetta, Beetle, Audi A3 e Passat, todos fabricados entre 2009 e 2015.

No Brasil, o único carro que pode possuir (não confirmado) o software é a picape média  Amarok, produzida na Argentina e equipada com o motor 2.0 TDI de 180 cv (fonte: FOLHA UOL)

2 - COMO OCORREU A MANIPULAÇÃO
Foi criado um chip com um programa (um software), que é ativado apenas em inspeções. Nos carros com motor a diesel do tipo EA 189 (os que sofreram adulteração), o chip é capaz de detectar quando o veículo está ligado a uma máquina de testes de poluentes (que tem etapas conhecidas pelos fabricantes). 


Fonte: http://pplware.sapo.pt/informacao/o-escandalo-das-emissoes-da-volkswagen-explicado/

Quando isso acontece, o motor ativa todos os dispositivos antipoluição e a emissão fica dentro dos níveis que são aceitos pelas autoridades.
Quando o carro sai da fase de inspeção, o “soft” é desligado ou ajustado, o carro volta aos patamares “normais” e começa a apresentar o desempenho prometido pela empresa, o qual era um diferencial de mercado (fonte: PPLWARE). Ao fraudar as normas, nos EUA, a VW e a Audi produziram um aumento das emissões de NOx de até 40 vezes em seus veículos durante os últimos sete anos.

3 - CONSEQUÊNCIAS ADMINISTRATIVAS, ECOLÓGICAS E SOCIAIS.
- O Presidente-executivo (CEO- Chief Executive Officer,) da Volks, Martin Winterkorn, pediu demissão em 23 de setembro de 2015.
- O presidente da Volkswagen, nos EUA, Michael Horn, se demitiu.
- perda de credibilidade e, portanto, do goodwill, que levará muito tempo para voltar (veja o caso da Toyota).
- perda do valor das ações
- A queima do diesel libera diversos gases poluentes da atmosfera, como monóxido de carbono, óxido de nitrogênio, enxofre, entre outros.
- Os NOx (Óxidos de Azoto) estão regulamentados porque foram relacionados com múltiplos efeitos negativos na saúde.
No curto prazo, podem causar irritação nas vias aéreas, resultando em problemas respiratórios, tais como agravamento das crises de asma.
No longo prazo, os NOx também foram relacionados a doenças cardiovasculares e respiratórias crônicas. Também há suficiente evidência científica relacionando os NOx ao aumento da mortalidade da população (fonte: EL PAIS).
- Os NOx podem reagir com amoníaco, umidade e outros compostos de modo a formar pequenas partículas, que podem causar ou agravar doenças respiratórias como enfisema e bronquite e podem agravar a doença cardíaca existente, levando ao aumento de internações hospitalares e à morte prematura.
Como dado, em 2013, O Brasil foi responsável por 3,5 por cento das mortes prematuras mundiais causadas pela exposição às emissões de partículas de veículos urbanos, e cerca de 31 por cento das mortes prematuras na América Latina (fonte: ICCT, outubro de 2013).
Apesar de, ainda não se ter ideia do reflexo do caso da Volkswagen, no Brasil, o que é para refletir é que o consumo final de óleo diesel é relevante. Em 2012, tínhamos a seguinte matriz de consumo final:

fonte: https://ben.epe.gov.br/downloads/Resultados_Pre_BEN_2012.pdf


- A questão maior é a credibilidade, a moral e a ética das empresas perante a sociedade. Por mais que expliquem, por mais que o tempo passe e o caso caia no esquecimento, a Volkswagen utilizou mecanismos para burlar as normas ambientais as quais são conquistas da sociedade preocupada com o meio ambiente. É preocupante.

FONTES DE CONSULTA
file:///C:/BLOG/monopoli10007949.pdf 


https://ben.epe.gov.br/downloads/Resultados_Pre_BEN_2012.pdf

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