domingo, 28 de fevereiro de 2010

Limites do crescimento: cap.5 - parte 1

O capítulo 5 do Relatório Limites do crescimento vai da página 153 a 180.
Isso significa que transcreverei em partes, novamente. Essa é a parte inicial- parte 1, como segue.

O ESTADO DE EQUILIBRIO GLOBAL

“a maioria das pessoas pensa que uma nação para ser feliz prrecisa ser grande; mas mesmo que estejam certas, elas não tem a menor idéia do que seja uma nação grande, ou uma nação pequena... Há um limite para o tamanho das nações, assim como há um limite para outras coisas; plantas, animais, instrumentos; pois, nenhuma delas retém seu poder natural quando é muito grande, ou muito pequena; ao contrário, ou perde inteiramente sua natureza, ou se deteriora (ARISTÓTELES, 322 a.C).

Vimos que os ciclos positivos de realimentação, que operam sem nenhuma restrição, geram crescimento exponencial. No sistema mundial, dois ciclos positivos são, no momento, dominantes, dando origem ao crescimento exponencial da população e do capital industrial (Meadows et. al, 1972, p.154)
Em qualquer sistema finito, deve haver restrições capazes de pôr fim a um crescimento exponencial. Estas restrições constituem os ciclos negativos de realimentação, que se tornam cada vez mais fortes, à medida que o crescimento se aproxima do limite máximo (ou capacidade de manutenção) do meio ambiente do sistema. Finalmente, os ciclos negativos equilibram ou dominam os ciclos positivos, pondo fim ao crescimento. No sistema mundial, os ciclos negativos de realimentação abrangem processos tais como a poluição do meio ambiente, o esgotamento dos recursos naturais e a fome (Meadows et. al, 1972, p.154)
Os atrasos inerentes à ação desses ciclos negativos tendem a permitir que o capital e a população ultrapassem seus níveis definitivos possíveis de manutenção. No período em que se dá a ultrapassagem dos limites, há desperdício de recursos naturais. Nele, geralmente diminui também a capacidade de manutenção do meio ambiente, intensificando-se o declínio eventual da população e do capital (Meadows et. al, 1972, p.154)
As pressões dos ciclos negativos de realimentação que interrompem o crescimento já se fazem sentir em muitos setores da sociedade humana. As principais respostas sociais a estas pressões têm sido dirigida contra os próprios ciclos negativos de realimentação. As soluções tecnológicas, como as discutidas no Cap. 4, foram planejadas para debilitar os ciclos ou então disfarçar as pressões que eles geram, a fim de que o crescimento pudesse continuar. Tais medidas podem ter algum efeito, a curto prazo, ao atenuarem as pressões causadas pelo crescimento mas, em ultima instância, elas não fazem coisa alguma para impedir que os limites sejam ultrapassados ou que ocorre o colapso do sistema (Meadows et. al, 1972, p.154-155)
Outra resposta ao problema criado pelo crescimento seria provocar o enfraquecimento dos ciclos positivos de realimentação que provocam esse mesmo crescimento. Tal solução quase nunca tem sido reconhecida como legitima por nenhuma sociedade moderna, e certamente nunca foi posta eficazmente em prática. Que tipos de condutas tal solução acarretaria? Que espécie de mundo resultaria daí? Quase não existe precedente histórico para esse modo de agir, e assim não há alternativa senão discuti-lo em termos de modelos escritos – sejam eles mentais ou formais. Como se comportará o modelo mundial, se incluirmos nele algumas medidas para controlar, deliberadamente, o crescimento? Será que essa mudança irá produzir um modo de comportamento “melhor”? (Meadows et. al, 1972, p.155)
Sempre que usamos palavras como “melhor” e começamos a fazer escolhas entre resultados alternativos de modelo, nós, os experimentadores, estamos inserindo nossos próprios valores e preferências no processo de modelagem. Os valores introduzidos em cada relação causal do modelo são os valores operacionais e reais do mundo, na medida em que podemos determiná-los. Os valores que nos levam a qualificar os resultados do computador como “melhores” ou “piores”, são os valores pessoais do modelador ou de seu público. Já definimos nosso próprio sistema de valores, ao rejeitarmos, por considerá-los indesejáveis, os modos de ultrapassagem de limites e de colapso. Agora que estamos buscando um resultado “melhor”, precisamos definir o mais claramente possível nosso objetivo para o sistema. Estamos à procura de um resultado para o sistema. Estamos à procura de um resultado modelo que represente um sistema que seja: 1) Sustentável, sem colapso inesperado e incontrolável; 2) Capaz de satisfazer aos requisistos materiais básicos de todos os seus haitantes. (Meadows et. al, 1972, p.155)

Vejamos agora quais os planos de ação que poderão ocasionar este comportamento no modelo mundial (Meadows et. al, 1972, p.155).

Restrições deliberadas ao crescimento

Recorda-se que o ciclo positivo de realimentação causador do crescimento de população, compreende a taxa de natalidade e todos os fatores socioeconômicos que influem sobre ela, e é neutralizado pelo ciclo negativo da taxa de mortalidade (Meadows et. al, 1972, p.156).
O crescimento assoberbante da população mundial, causado pelo ciclo positivo da taxa de natalidade, é um fenômeno recente, resultado do grande sucesso da humanidade em reduzir a mortalidade mundial. O ciclo negativo de realimentação, que agia como controlador, foi enfraquecido, deixando o ciclo positivo operar virtualmente, sem restrição. Há somente dois modos de restaurar o desequilíbrio resultante: ou diminuir a taxa de natalidade, para que ela se iguale à nova taxa de mortalidade mais baixa, ou deixar que esta última torne a subir. Todas as restrições “naturais” ao crescimento de população operam conforme a segunda maneira – elas elevam a taxa de mortalidade. Qualquer sociedade que queira evitar esse resultado deve tomar medidas deliberadas para controlar o ciclo positivo de realimentação, isto é reduzir a taxa de natalidade (Meadows et. al, 1972, p.156).
Em um modelo dinâmico é fácil neutralizar os excessivos ciclos positivos. Por enquanto, vamos excluir a condição de praticabilidade política, e usemos o modelo para verificar, se não as conotações sociais, pelo menos as conotações físicas com a limitação do crescimento da população. Precisamos somente acrescentar ao modelo mais um ciclo causal, ligando a taxa de natalidade à taxa de mortalidade. Em outras palavras, exigimos que o número de crianças nascidas cada ano seja igual ao numero previsto de mortes na população, no mesmo ano. Os ciclos positivos de realimentação tanto quanto os negativos, serão assim perfeitamente equilibrados. À medida que a taxa de mortalidade decrescer, devido à melhor alimentação e melhores cuidados médicos, a taxa de natalidade decrescerá. Tal exigência, matematicamente tão simples, quão complicada é, do ponto de vista social quanto aos nossos propósitos, apenas um dispositivo experimental e não constitui necessariamente uma recomendação política (esta sugestão para estabilizar a população foi proposta originalmente por Keneth E.Boulding, The meaning of the 20th century, New York, Harper and Row, 1964) (Meadows et. al, 1972, p.157).

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