sábado, 13 de setembro de 2008

Carta Empresarial para um Desenvolvimento Sustentável

Hoje vou falar da incorporação do meio ambiente na área empresarial.
Não há dúvidas que o meio empresarial se re-organizou e internalizou a variável ambiental, em particular, como diferenciador de produtos e ou como barreira técnica.

Essa história tem um certo tempo. O programa 3P (Pollution Prevention Pays) foi lançado, em 1975, pela Companhia 3M visando desenvolver uma aplicação organizada do conceito de prevenção da
poluição. Com isso, deixa-se a ênfase de controle da poluição nas fases finais de processos para enfatizar o combate à poluição em sua origem. A prevenção passa a ser entendida como uma estratégia tanto ambiental quanto competitiva e financeira.

Ainda na década de 1970, surgem os rótulos ambientais voluntários, que atestavam que alguns alimentos tinham sido cultivados sem a utilização de agrotóxicos e contribuiram para mostrar aos consumidores a relação entre as atividades produtivas e os impactos ambientais. Em 1977, a Alemanha lança um rótulo (Blauer Angel, vou falar da rotulagem logo) como diferenciador de produto.

Pode-se perceber que havia certo movimento empresarial na área ambiental.

Além disso, antes mesmo da publicação do Relatório Nosso futuro Comum, em 1987 (que disseminou o conceito de desenvolvimento sustentável), diversos acordos e encontros aconteceram.

O princípio da precaução, contido no próprio Relatório Nosso Futuro Comum, de 1987, foi acordado na Conferência Mundial da Industria sobre a Administração Ambiental, em 1984 e aceito na Reunião do G7, em 1987. O Princípio da Precaução é entendida como oportunidade de investimentos e estudos localizados visando consumo mais eficiente de energia, criação de novas técnicas e tecnologias mais lucrativas.

Em 1986, a Câmara Internacional de Comércio (ICC) já estabelecia as diretrizes ambientais para a indústria mundial.

Em 1991 foi criado o Business Council for Sustainable Development-BCSD (Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável), um órgão ligado à ONU, com sede em Genebra. Só para frisar, a criação do BCSD foi incentivada com o convite de Maurice Strong (Secretário Geral, na Eco-92) ao empresário Stephan Schmidheiny. No mesmo ano de 1991, Schmidhiny lançou, através do próprio BCDS , o livro "Mudando o Rumo: Uma perspectiva empresarial global sobre desenvolvimento e meio ambiente", traduzido para o português, em 1992. Schmidheiny foi nomeado principal assessor para assuntos de negócios e indústria de Maurice Strong, na ECO-92.

Fonte: http://www.viversustentavel.net/Livros.php
Esse livro é um marco histórico e reune uma série de workshops e conferências, com 50 lideres de grandes empresas como as Dow, Du Pont, Procter & Gamble, Shell, Kiocera e Volkswagen. Nele, S. Schmidheiny (1992) afirma que “a pedra angular do desenvolvimento sustentável é um sistema de mercados abertos e competitivos em que os preços são fixados de forma a refletir os custos dos recursos ambientais e outros”, e ainda que “os mercados abertos podem motivar as pessoas para o desenvolvimento sustentável"

O Conselho criado (BCSD), hoje com 190 corporações, tem como objetivos avançar junto com a comunidade internacional de empresários nas discussões em torno do desenvolvimento industrial sustentável, estimular o empresariado mundial a cooperar com os governantes na discussão, estabelecer metas ambientais e garantir que o desenvolvimento destas propostas ocorra dentro da economia de mercado (Schmidheiny, 1992).

Em abril de 1991, na Segunda Conferência Mundial da Indústria sobre a Administração Ambiental (WICEM II) realizada em Roterdã, na Holanda, organizada pela Câmara Internacional do Comércio (ICC) houve a apresentação e assinatura da Carta Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável, proposto pela própria Câmara.

Esta carta empresarial, também conhecida como Carta de Roterdã, possui 16 princípios de gestão que expressam compromissos a serem assumidos pelas empresas, no estabelecimento de um sistema de gestão ambiental.
Vocês verão que nela está contida toda a orientação da ISO 14000.

CARTA EMPRESARIAL PARA UM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

1. Prioridade empresarial
Reconhecer o gerenciamento ambiental como uma das primeiras prioridades da empresa é um fator determinante para o desenvolvimento sustentável; estabelecer políticas, programas e práticas para conduzir as operações de maneira ambientalmente sadia.

fonte:http://www.globalgarbage.org/praia/2011/11/05/reciclagem-preocupacao-antiga-problema-novo/
2. Gerenciamento integrado
Integrar plenamente essas políticas, programas e práticas em cada ramo de atividade, como elemento essencial do gerenciamento em todas as suas funções.

3. Processo de Aperfeiçoamento
Continuar a aprimorar as políticas, programas e o desempenho ambiental da empresa, levando em conta os progressos técnicos, o avanço científico, as necessidades do consumidor e as expectativas da comunidade, tendo como ponto de partida as regulamentações legais, e aplicar os mesmos critérios ambientais no nível internacional.

4. Educação do empregado
Educar, treinar e motivar os empregados para que suas atividades sejam conduzidas de maneira ambientalmente responsável.

5. Avaliação prévia
Avaliar os impactos sobre o meio ambiente antes de iniciar uma nova atividade ou projeto, e antes de desativar instalações ou retirar-se de um local.

6. Produtos e serviços
Desenvolver e oferecer produtos ou serviços que não tenham nenhum impacto ambiental indevido e sejam seguros no uso a que se destinam, que sejam eficientes no consumo de energia e recursos materiais, e que possam ser reciclados, reutilizados ou removidos com segurança.

7. Orientação ao cliente
Aconselhar e, quando apropriado, educar os clientes, os distribuidores e o público em geral quanto à segurança no uso, transporte, armazenagem e remoção dos produtos oferecidos, aplicando as mesmas considerações à prestação de serviços.

8. Instalações e operações
Desenvolver, projetar e operar instalações e conduzir atividades levando em conta o uso eficiente da energia e matérias-primas, o uso sustentável dos recursos reutilizáveis, a minimização de impactos ambientais adversos e da geração de lixo, e a remoção segura e responsável de resíduos.


9. Pesquisa
Realizar ou apoiar pesquisas sobre os impactos ambientais de novas matérias-primas, produtos, processos, emissões e lixos associados com o empreendimento, bem como sobre os meios de minimizar quaisquer impactos adversos.

10. Abordagem cautelosaModificar o processo de produção, a comercialização ou o uso de produtos ou serviços, ou a condução, de atividades, de acordo com o conhecimento técnico e científico, para evitar séria ou irreversível degradação ambiental.

11. Fornecedores e empreiteiros
Promover a adoção destes princípios pelos empreiteiros que agem em nome da empresa, encorajando e, quando apropriado, exigindo um aprimoramento de suas práticas para torná-las coerentes com as da empresa; e encorajar a ampla adoção destes princípios pelos fornecedores.

12. Alerta para emergênciasDesenvolver e manter, quando existirem perigos significativos, planos de alerta para emergências em conjunto com os serviços emergências, as autoridades pertinentes e a comunidade local, reconhecendo potenciais impactos fora da empresa.

13. Transferência de tecnologiaContribuir com a transferência de tecnologia e métodos gerenciais ambientalmente corretos para todos os setores industriais e públicos.

14. Contribuir para o esforço comumContribuir para o desenvolvimento das políticas públicas e para os programas e iniciativas educacionais empresariais, governamentais e intergovernamentais que venham a ampliar a consciência ambiental e a proteção do meio ambiente.

15. Abertura às preocupações sociais
Promover a abertura e o diálogo com os empregados e com o público, antevendo e respondendo às suas preocupações quanto aos perigos e impactos potenciais das operações, produtos, resíduos ou serviços da empresa, incluindo aqueles que se fazem sentir fora da empresa ou em nível global.

16. Cumprir as exigências e emitir relatórios
Medir o desempenho ambiental; realizar auditorias e avaliações ambientais periódicas sobre o aumento das exigências da empresa, das normas legais e destes princípios; e oferecer e periodicamente as informações adequadas ao Conselho diretor, aos acionistas, aos empregados, às autoridades e ao público.

Com base nesses princípios, o British Standards Institute (BSI) lançou, em 1992, a norma BS 7750, que normatiza a instalação de um Sistema de Gestão Ambiental (SGA) e a sua certificação.
Seguindo o mesmo rumo, a International Organization for Standardization (ISO), após a grande aceitação da série ISO 9000 (Sistema de Gestão da Qualidade) envidou esforços para avaliar a necessidade de normas internacionais para gestão ambiental. Em agosto de 1991, criou o Strategic Advisory Group on Environment (SAGE), que tinha o objetivo de propor ações necessárias para a criação de um enfoque sistêmico da normalização ambiental e da certificação. (ABNT, 1995; CNI, 1995).
Essa história vou contar outro dia.

3 comentários:

Anônimo disse...

Obrigado pelo texto. Estou fazendo o meu TCC sobre reuso de água e ele me ajudou quanto aos princípios da gestão ambiental.

Anônimo disse...

O artigo ficou bom e eu citei na minha proposta de TCC. Obrigado.

Unknown disse...

O artigo em si é muito be
obtigado pelo texto gostei muito, é interessante demais, bjo