sábado, 30 de agosto de 2008

Ecodesenvolvimento e Desenvolvimento sustentável

Como já comentei, a partir da metade dos anos de 1980, começa a ser discutida, de forma mais sistemática, a idéia de sustentabilidade. Nesse contexto, o relatório "Nosso Futuro Comum" também conhecido como Relatório Brundtland é um marco histórico, pois, nele é disseminado o conceito de que desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento que atende às necessidades da geração presente sem comprometer o atendimento das necessidades das gerações futuras.
Esse documento já foi por mim comentado.
Existem alguns desdobramentos que quero salientar. A adesão dos países e ao conceito é devido ao entendimento de que é possível conciliar o crescimento econômico com a equidade social e a sustentabilidade ambiental.
Essa possibilidade colocou, portanto, a necessidade de se criar um paradigma que o conceito deixava em aberto.
Nesse sentido, a obra de Sachs (1983, 1987, 1993 e 1996) atende alguns anseios que surgem na academia (deixo claro, então, que não a entendo como única alternativa existente).
Vou falar um pouco dele e depois de suas idéias:
Ignacy Sachs nasceu em Varsóvia- Polônia, em 1927. Fugiu com seus pais, em 1939, e permaneceu no Brasil, de 1941 a 1954, período em que se graduou em Economia pela Faculdade de Ciências Econômicas e Políticas do Rio de Janeiro, que, hoje, é a Universidade Cândido Mendes. Daí o seu carinho pelo Brasil e o nosso orgulho de ter contribuido em sua formação inicial.
Sachs é considerado como a segunda geração dos economistas da Teoria do Desenvolvimento. A primeira foi a de Rosenstein-Rodan, Hans Singer, Gunar Myrdal e Raul Prebisch; a segunda, de Celso Furtado, Albert Hirschman e ele.
Defende que existe a necessidade de crescimento com sustentabilidade social e ambiental. Ele afirma categórico que "NEM PENSAR em paralisar o crescimento enquanto houver pobres e desigualdades sociais gritantes; mas é necessário que esse crescimento mude quanto às suas formas de ser e principalmente quanto à repartição dos seus frutos. Precisamos de um outro crescimento para um outro desenvolvimento.”
Ficou conhecido, na década de 1970, por seus estudos sobre inclusão social e desenvolvimento. Na Conferência de Estocolmo, em 1972, Sachs junto com Maurice Strong e Marc Nerfin definiram a declaração final da Conferência.
Segundo Sachs, o Ecodesenvolvimento deve privilegiar quatro postulados:
a) satisfação das necessidades básicas das populações, atendendo conforme a escala hierárquica de necessidades — materiais e psicossociais;
b) self-reliance, promoção da autonomia de comunidades locais organizadas para que elas tenham gerência efetiva do seu desenvolvimento local, sem que isso leve ao isolacionismo;
c) relação simbiótica entre homem e natureza;
d) reconsideração dos conceitos de eficiência e eficácia econômicas, ponderando o utilitarismo que se baseia no cálculo de ganhos individuais de curto e de médio prazos, a partir das dimensões socioambientais societárias (Vieira, 2003; Sampaio, 2004a).
Ele ainda é professor honorário na Escola de Altos Estudos em Ciência Sociais de Paris e na Universidade de São Paulo. Sua publicação, no Brasil, mais recente, é Rumo à Ecossocioeconomia - teoria e prática do desenvolvimento, de 2007 e seu livro recente é La troisième rive — à la recherche de l’ècodéveloppement (Paris, 2008).
Em 2003, ele dá uma palestra interessante (adiciono o link da mesma para quem quiser saber mais), que resumo abaixo.
Afirma ele que o país precisa de um crescimento com alta intensidade de empregos, pois, a relação emprego-crescimento é variável chave da estratégia do desenvolvimento includente e permite nivelar das disparidades de renda e riqueza.
A inclusão, via geração de trabalho, contribui tanto para o aumento da renda e do bem-estar quanto oferece uma solução permanente, ou seja, independente de políticas cíclicas compensatórias.
Considera importante sair do achismo e conhecer cientificamente os encadeamentos entre o núcleo modernizador e o resto da economia, de maneira a obter a melhor relação entre empregos diretos e indiretos possivel. Diz Sachs (2003, p.6): "Queremos é maximizar o emprego decente combinando atividades de diferentes níveis de produtividade, em vez de buscar a maior produtividade possível do trabalho às custas do emprego".
Além disso, é preciso passar da civilização do petróleo à civilização da biomassa, valorizando de maneira ecologicamente correta os recursos renováveis, construindo um diversificado complexo bioindustrial e transformando, assim, em vantagem permanente a condição de país tropical.
A geração de empregos a partir da valorização das biomassas terrestres, florestais e aquáticas - e sua transformação em alimentos, bioenergia, fertilizantes, fibras, plásticos, materiais de construção, fármacos e cosméticos, mediante a aplicação de biotecnologias nas duas pontas do processo - para aumentar os rendimentos da produção primária e para expandir o leque dos produtos derivados da biomassa, bem como as tarefas que daí resultam para o sistema de fomento, o dispositivo de pesquisa e instituições de apoio ao pequeno e micro empresário.
Sachs considera como sua profissão de fé a defesa de que, apesar da vulnerabilidade externa da economia brasileira, deveria ser possível acelerar a reforma agrária e transformar gradualmente os assentamentos em vilas agroindustriais, expandir o complexo bioindustrial, partir para um grande mutirão habitacional e ampliar a frente de obras infra-estruturais promovidas por métodos intensivos de mão-de-obra.
Para ele, o processo de substituição do petróleo por biomassa é central na luta contra as mudanças climáticas além de contribuir diretamente para a solução da escassez de empregos, pois, é necessário reabrir a discussão sobre um novo ciclo de desenvolvimento rural de maneira a criar oportunidades de trabalho decente para bilhões de pobres das áreas rurais.
Ele ainda comenta, em entrevistas que dá que:
A humanidade passa por uma grande transição, que coincide com o esgotamento dos mais importantes modelos de desenvolvimento, que dominaram o cenário desde o fim da Segunda Guerra Mundial. O comunismo se desmoronou com a queda do Muro de Berlim. O reformado capitalismo do pós-guerra deu lugar ao neoliberalismo. Existem controvérsias se ocorre, com a recente crise financeira, o início do fim do neoliberalismo. Com isso, ocorre a emergência de biocivilizações, as quais, quando surgirem, mudará a geopolítica mundial, pois favorecerá os países tropicais, qualificados por Pierre Gourou como “Terras da boa esperança”. Nesse sentido, esses países precisam conseguir ampliar a vantagem do clima natural por meio da pesquisa, uma apropriada organização de sua produção e um efetivo desenvolvimento da cooperação Sul-Sul.
Espero que eu tenha conseguido passar uma breve noção de quem é o Professor pesquisador Ignacy Sachs.

Um comentário:

Unknown disse...

por favor quero citar este texto em um trabalho preciso saber como se faz esta referência...