domingo, 19 de agosto de 2007

A água no mundo e no Brasil

Muitas pessoas ainda consideram, ingenuamente, a água como um recurso abundante. Outras poupam a sua utilização, pois, sentem no bolso o seu valor nos gastos mensais, mas estão longe de compreender a real dimensão da crise da água.
A posição de utilizador da natureza e a crença de que a tecnologia permitirá, sempre, resolver os problemas resultou nos impactos ambientais negativos ao meio natural. Esses impactos são significativos nas águas e se constitui em problema mesmo para paises com grande disponibilidade de água, conforme REBOUÇAS (2002, 689) “[....] a baixa eficiência dos serviços de oferta d’água nas cidades, os grandes desperdícios e a degradação da sua qualidade em níveis nunca imaginados, poderão colocar países ricos de água doce, como o Brasil, na vala comum dos pobres e muitos pobres de recursos hídricos.”
Há pouco tempo, a ONU declarou, que se o consumo continuar no ritmo atual, 2,7 bilhões de pessoas vão sofrer de severa falta de água até 2025.
A água, além de ser vital para o homem é condição fundamental para o desenvolvimento. Apenas 10% da água consumida no mundo são destinadas ao consumo doméstico. A agricultura consome 70%, onde mais da metade desse volume se perde com a evaporação ou escoamento. A irrigação por gotejamento gasta de 30% a 70% menos água que os métodos convencionais e aumenta a produtividade das plantações, mas é empregada em menos de 1% das terras irrigadas. A indústria consome os 20% restantes da água, muitas vezes com grande ineficiência.
Apresentar os dados gerais não mostra a grande diversidade de situações. Por exemplo: na Guiana, 1% do uso de água é para fins domésticos e 99% para fins agrícolas e industriais enquanto que na Guiné Equatorial, a situação praticamente se inverte: 81% do gasto hídrico vai para fins domésticos e apenas 19% para fins agrícolas e industriais. Ambos os países estão em regiões com mais de 100.000 m³/hab/ano de água doce.
Segundo REBOUÇAS (1999, p.7), a quantidade de água na Terra é praticamente a mesma, nos últimos 500 milhões de anos e totaliza 1.386 milhões de km3 . Existe um consenso, entre os estudiosos, que 97,5% de toda a água no mundo é água salgada, portanto, indisponível para consumo humano imediato, e o restante, 2,5%, é de água doce. Com relação à esta última tem-se que: 69% estão sob a forma de geleiras glaciais , calotas polares e neves eternas (e devemos fazer a nossa parte para que continue assim); 30 % sob a forma de águas subterrâneas, 0,3 % em rioso e lagos e 0,7% encontram-se sob outras formas (vapor, pantanais e umidade de solo)
Acredita-se que menos de 1% de toda a água doce seja potável.
A água é um bem reciclável, pois, ela tem um ciclo hidrológico. O ciclo hidrológico opera em função da energia solar que produz evaporação dos oceanos e dos efeitos dos ventos, que transportam vapor d’água acumulado para os continentes.
No entanto, devido a intervenção do homem na natureza, o ciclo hidrológico apresenta processos que resultam em distribuição temporal e espacial irregular da água, com variação local e ocasional.
Como resultado existem situações discrepantes: a Ásia tem 60% da população mundial e somente 36% de recursos hídricos enquanto a América do Sul tem 6% da população e 26% das águas mundiais.
Segundo a UNESCO (2006), os países com mais água per capita/por habitante são, por ordem decrescente: Guiana Francesa (812.121 m³); Islândia (609.319 m³); Guiana (316.689 m³); Suriname (292.566 m³); Congo (275.679 m³); Papua Nova Guiné (166.563 m³); Gabão (133.333 m³); Ilhas Salomão (100.000 m³); Canadá (94.353 m³) e Nova Zelândia (86.554 m³).
Ainda segundo a mesma fonte, os países com menos água per capita/ano são: Kuait (10 m³); Emirados Árabes Unidos (58 m³); Faixa de Gaza – território palestino (66 m³); Bahamas (94 m³); Qatar (103 m³); Maldivas (113 m³); Líbia (118 m³); Arábia Saudita (129 m³); Malta (149 m³) e Cingapura (179 m³). A situação também é crítica no México, Hungria, Índia, China, Tailândia e Estados Unidos.
Lembramos que a distribuição desigual também ocorre dentro de cada país. No planeta Terra, que possui mais de 6 milhões de pessoas, os problemas atingem, de maneira cruel, os mais pobres dos países pobres, que sofrem as enfermidades relacionadas com a água, vivem em locais de risco e degradados com dificuldades para suprir as necessidades básicas de alimentação, o que inclui o acesso à água para sobrevivência. Segundo o Relatório do Banco Mundial de 1992, o consumo médio de água, por nível de renda na classe baixa é de 386 m³/hab, na classe média é de 453 m³/hab e na classe alta 1.167 m³/hab. Essa situação, seguramente, se acentuou de lá para cá.
A distribuição desigual da água tem causado sérias limitações para o desenvolvimento de várias regiões. A escassez está se expandindo para áreas cada vez mais extensas, o que resulta em sérios problemas de segurança regional, conflitos e migrações em larga escala.
O Brasil destaca-se, no cenário mundial, por possuir grandes reservas superficiais e subterrâneas de água doce. Possuímos uma área de 8.511.965 km2 e, aproximadamente, 90% do nosso território apresenta clima tropical dominante e abundante quantidade de chuvas. Como resultado, dispõe de 177.900 m3/s de descarga de água doce em seus rios. Unindo-se à descarga dos rios amazônicos internacionais, que é de 73.100 m3, juntos alcançam uma descarga total 251.000 m3/s, o que representa 53% da produção de água doce do continente sul-americano (que é de 334.000 m3/s); e 12% de água doce superficial do mundo, que é da ordem de 1.488.000 m3/s (REBOUÇAS, 1999, p.30).
Devido a essa “disponibilidade”, o país viveu a ilusão de sua abundância que, após os “apagões”, racionamentos e secas sucessivas e crescentes, parece se desfazer.
Apesar da situação privilegiada, no Brasil, a distribuição desigual das águas é acentuada.
Observa-se que 79,7% do potencial hídrico estão localizados na Região Norte, que possui 7,8% da população e a menor demanda no território nacional. Particularmente, a região Amazônica, que corresponde a 54,48% do território, abriga uma escassa população de 1 hab/Km2.

Segundo dados do IBGE (2000), 70,9% dos brasileiros possuem residência; desse total apenas 75% dispõem de água potável e 59% de rede de esgoto; 6% (é isso mesmo, 6%) dos esgotos não são tratados e 80% das doenças são causadas ou disseminadas pela falta de saneamento. A cada ano as doenças provocadas por ela causam 3 milhões de mortos no mundo, crianças na maioria, e provocam mais de 1 bilhão de enfermidades.
O Brasil é o 25° país no ranking mundial de volume per capita de água disponível, possuindo 71% do Aqüífero Guarani, considerado o maior manancial de água doce subterrânea do mundo. Formado há 250 milhões de anos e com um volume de 45 trilhões de m3 de água potável, mineral e térmica, que seria suficiente para abastecer a população brasileira por 3.500 anos.
Para encerrar, vamos comentar um pouco sobre os aqüíferos.

Os maiores aqüíferos do mundo

Aqüífero é uma formação geológica do subsolo, constituída por rochas permeáveis, que armazena água em seus poros ou fraturas. Pode ter extensão de poucos quilômetros quadrados a milhares de quilômetros quadrados, ou pode, também, apresentar espessuras de poucos metros a centenas de metros (REBOUÇAS et al., 2002). Etimologicamente, aqüífero significa: aqui = água; fero = transfere; ou do grego, suporte de água.
Os aqüíferos mais importantes do mundo, seja por extensão ou pela transnacionalidade, são: o Guarani, que se localiza na Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai (com 1,2 milhões de km2); o Arenito Núbia ­Líbia, Egito, Chade, Sudão (2 milhões de km2); o KalaharijKaroo -Namíbia, Bostwana, África do Sul (135 mil km2); o Digitalwaterway vechte - Alemanha, Holanda (7,5 mil km2); o Slovak­Karst-Aggtelek -República Eslováquia e Hungria); o Praded - República Checa e Polônia (3,3 mil km2) (UNESCO, 2001); a Grande Bacia Artesiana (1,7 milhões km2) e a Bacia Murray (297 mil km2), ambos na Austrália. Em um recente levantamento, a UNECE da Europa constatou que existem mais de 100 aqüíferos transnacionais naquele continente (ALMASSY e BUZAS, 1999 citado em UNESCO, 2001).
Não pense que esta água está intocada. Estima-se que 300 milhões de poços foram perfurados, no mundo, nas três últimas décadas (UNESCO, 1992 citado por REBOUÇAS et al., 2002), 100 milhões dos quais estão nos Estados Unidos. Na África do Norte, China, Índia e Arábia Saudita, cerca de 160 bilhões de toneladas de água são retirados por ano e não se renovam (RODRIGUES, 2000).
Ainda se constatam diversos exemplos de esgotamento de aqüíferos por sobrexploração para uso em irrigação (CEPIS, 2000). Avalia-se que existam no mundo 270 milhões de hectares irrigados com água subterrânea, 13 milhões desses nos Estados Unidos e 31 milhões na Índia (PROASNE, 2003).
Importantes cidades brasileiras dependem integral ou parcialmente da água subterrânea para abastecimento, como, por exemplo: Ribeirão Preto (SP), com 100% de dependência, Mossoró e Natal (RN), Maceió (AL), Região Metropolitana de Recife (PE) e Barreiras (BA). No Maranhão, mais de 70% das cidades são abastecidas por águas subterrâneas, e em São Paulo e no Piauí esse percentual alcança 80%.

Referências bibliográficas utilizadas
UNESCO – El água como fonte de conflictos: repaso de los conflictos em el mundo. In Oficina Regional de Ciência e Tecnologia da UNESCO, 2006.
WWF – Cadernos de Educação Ambiental: Água para a vida, água para todos, Brasília: WWF Brasil, 2006
REBOUÇAS, Aldo da Cunha; BRAGA, Benedito; TUNDISI, José Galizia (Org.). Águas doces no Brasil: capital ecológico, uso e conservação. São Paulo : Escrituras Editora, 1999.

Um comentário:

Unknown disse...

eer gosteii ... *-*