terça-feira, 25 de março de 2014

DA RIQUEZA DAS NAÇÕES AO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DA RIO-92.



Discute-se o crescimento, desde antes de Adam Smith, contudo é com a “Uma Investigação sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações, livro mais conhecido como A Riqueza das Nações (1776), que se amplia a discussão no campo da ciência econômica. No mesmo, o progresso das nações dependia da base material, da produtividade econômica considerada tanto função das trocas de produtos entre países que se especializam quanto da divisão do trabalho. Esta visão foi discutida e refinada por vários economistas, como David Ricardo, William Petty, Alfred Marshall.
No final da XX Guerra Mundial, com a necessidade de haver uma medida da capacidade de pagamento dos empréstimos para reconstrução pós-guerra e financiamento de equipamentos se consolidou a quantificação através do Produto Interno Bruto. Com isso, os que tinham maior PIB estavam em melhores condições econômicas ou desenvolvidos e aqueles com baixo PIB eram subdesenvolvidos. Portanto, o conceito de desenvolvimento se disseminou ao mesmo tempo em que o conceito de subdesenvolvimento. Isso implicava afirmar que: a) existem diferenças entre as nações, ou seja, algumas são desenvolvidas e outras em desenvolvimento ou subdesenvolvidas e b) a diferença era devido a evolução da riqueza ou do PIB. Com isso, não é a toa, se desenvolveram, de um lado, as teorias desenvolvimentistas centradas na necessária industrialização. e, de outro lado, as teorias criticas que defendiam que o desenvolvimento era decorrente da exploração dos subdesenvolvidos, das trocas desiguais, entre outras teorias. Ressalto que críticas ou não, todas estavam centradas na industrialização, que discutirei, posteriormente, pois, é bem interessante.
A identidade entre os conceitos de desenvolvimento e crescimento e que se torna dominante,  era tanta que Arthur Lewis, premio Nobel, denominou seu livro de Teoria do crescimento econômico, contudo foi publicado como “Teoria do desenvolvimento Econômico” (1955), no qual mostra que a velocidade de expansão econômica é determinada pela taxa de investimentos e de acumulação no setor moderno (industrial), quer dizer, ele defendia a necessidade de aumentar a produção (via investimentos) e a renda das pessoas, que isto por si só levaria ao desenvolvimento.
Esta abordagem e a perspectiva evolucionista de Walt Rostow (1960), defendiam que o desenvolvimento é um processo linear e positivo e dependente do aumento da produtividade, da modernização,  dominaram a literatura da Economia do Desenvolvimento das décadas de 1950 e princípios de 1960.
Claro que, com o tempo, houve várias críticas e reformulações. As teorias críticas defendiam que o desenvolvimento era decorrente da exploração dos subdesenvolvidos (Frank, 1967), das trocas desiguais (Prebish, 1949 e Singer, 1950), da estrutura de dependência (dos Santos, 1970), do capitalismo periférico (Amin, 1976), entre outras teorias. Ressalto que estas críticas estavam, em sua maioria, centradas no modo de inserção dos países subdesenvolvidos e em desenvolvimento no comércio internacional e na necessidade de desenvolver a industrialização, com a ajuda do Estado com a substituição das importações, que discutirei, posteriormente, pois, é bem interessante.
Academicamente, o que se pode dizer é que a maioria dos economistas interpretava o crescimento/desenvolvimento como um crescimento continuo e positivo, no qual o meio ambiente, em particular os recursos naturais, ou  fazia parte dos fatores de produção ou era relegado a um plano menor.
A falta da preocupação  ambiental  é uma dos aspectos  críticos, que se tem sobre os conceitos de crescimento e de desenvolvimento. Contudo, paulatinamente, começam a surgir.
No nível mundial, começou com Rachel Carson, no livro Silent Spring (Primavera Silenciosa, de setembro de 1962), que trata dos impactos ambientais negativos decorrentes do uso do DDT, Aldrin e outros agrotóxicos, desencadeando uma grande inquietação internacional sobre a perda de espécimes e da qualidade da vida humana. Ela comenta “O desejo do homem de controlar totalmente a natureza é concebido como arrogância e o desequilíbrio dos processos metabólicos e mutações preços altos a serem pagos para não se ter pernilongos”
A tragedia dos Comuns, de Garrett Hardin, publicado em Science, v. 162 (1968), é outra obra extremamente importante.
As discussões sobre o desenvolvimento que abordam/congregam as questões ambientais e ecológicas, nos países ocidentais , ampliam-se com a publicação do relatório "Limites do Crescimento" (Nova Iorque, 1972 ) ou Relatório Meadows, organizado por Meadows, Donella H. e Meadows, Dennis L., com especialistas do MIT. [1]Este relatório teve ampla repercussão nos  meios de comunicação internacional  e, particularmente, na Conferência de Estocolmo, no mesmo ano, pois, defendia o crescimento Zero para conter os desequilibrios e escassez de recursos do planeta. Até então (será que não é até hoje?), os problemas/desastres ambientais são tratados de forma pontual com origem, geralmente, industrial, o que resulta em politicas e tecnologias corretivas.
Além disso, ocorreu ( e ocorre) uma série de desastres ambientais provocados pelo Homem: Fxplosão em uma fábrica de pesticidas em Seveso, Itália (1976); vazamento de metil isocianato em Bhopal, Índia (1984); incêndio em uma indústria química da Sandoz na Basiléia, Suíça (1989), Acidentes nucleares de Three Mile Island, nos Estados Unidos (1979) e Chernobyl (1986),  derramamento de petróleo do Exxon Valdez, no Alasca (1989), so para citar os que todos citam, que resultaram em normas e em revisão dos conceitos de desenvolvimento.
Voltando ao tema central, na Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano, ou Primeira Cupula da Terra, em Estocolmo (1972 ), onde se cria a UNEP , surge o conceito de ecodesenvolvimento, lançado por Maurice Strong, em junho de 1973, e ampliado com as contribuições de Ignacy Sachs (Environment et styles de dévelopement, 1974 ), que alia o desenvolvimento a questões éticas e sociais , de modo que o processo de desenvolvimento deve levar em conta os aspectos ecológicos , culturais e territoriais. Sachs afirma que nada justifica o otimismo tecnológico ilimitado.
Durante os anos 1980, os desastres ambientais, mundialmente divulgados, geraram forte crítica ao ideal desenvolvimentista predominante nas politicas públicas e na racionalidade instrumental. De certa forma, não no ritmo necessário, criou-se um ambiente propicio ao que se denomina " desenvolvimento sustentável", que foi um avnço importante, pois, colocou na agenda internacional questões como: meio ambiente, energia, pobreza, poluição,uso e ocupação do solo, consumo, entre outros.
Em 1980, partindo da necessidade de um crescimento econômico que não torne vulnerável os ecossistemas, a UICN (União Internacionnal para a Conservação da Natureza), o PNUMA  e o WWF (World Wildlife Fund), no relatório Estrategia mundial para la conservación" (1980), introduziu o “conservacionismo” como eixo de ação, pois, não há desenvolvimento se não se preservam os recursos naturais.
Surge o Relatório “Our common future” (1987) ou Relatório Brundtland, elaborado pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD), presidido por Gro Harlem Brundtland (Ministra do Meio Ambiente na época e Primeira Ministra da Noruega, depois), que tratou de temas como desmatamento, pobreza, mudança climática, extinção de espécies, endividamento e destruição da camada de ozônio
Neste relatório está a formalização do conceito mais disseminado de Desenvolvimento Sustentável, ou seja, “O desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento que satisfaz as necessidades da geração presente sem comprometer a capacidade de as gerações futuras satisfazerem suas próprias necessidades” (Comissão, 1988, p. 46)
Apesar do amplo reconhecimento, este conceito é utiliizado para diversos fins e contextos muito diferentes. Pearce y Markandya (1989: 43-44) apresentam vários significados, inclusive, alguns que nada tem a ver com sustentabilidade ambiental.
O relatório Nosso Futuro comum, apesar de haver muitas criticas também tem méritos em abordar e/ou assumir:
a) a abordagem intertemporal e intergeracional , pois, considera não só as necessidades atuais quanto as da futura geração;
b) reconhece que os paises industrializados são os que mais consomem, inclusive, os recursos naturais apontando o caráter predatório;
c) os paises industrializados são os que mais poluem indicando a responsabilidade pelos atos;
d) devido a isso, os paises em desenvolvimento e pobres não devem seguir os padrões dos mesmos (o que de certa forma, questiona as teorias desenvolvimentistas-industrialistas).
e) a natureza tem limites e o desenvolvimento também.
Por outro lado tem criticas:
a) apesar dos ricos poluirem mais e consumirem mais, afirma que os pobres precisam mudar o comportamento. Decorrente disso, vem todos os programas e discursos nacionais e internacionais contra a pobreza e a miséria (que deve ser combatida sim, mas precisa também de responsibilização dos paises mais ricos e só o Protocolo de Quioto não é suficiente)
b) enquanto o ecodesenvolvimento alerta sobre os perigos da crença na tecnologia, o conceito de desenvolvimento sustentável defende a tecnologia moderna, menos impactante que deve, inclusive, ser assimilada pelos países subdesenvolvidos. Quer dizer, a tecnologia sustentável, os produtos sustentáveis tem um potencial de mercado enorme.
O conceito de Desenvolvimento sustentável do relatório é amplamente discutido na Rio-92 ou a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), no Rio de Janeiro. Discutiremos a seguir


[1] Em 1968, nasce o Clube de Roma, liderado por Peccei, que tinha a preocupação em encontrar respostas para problemas como a industrialização, alimento, crescimento demográfico, energia, pobreza e meio ambiente e contratam especialistas do MIT, que elaboram o relatório Limites do crescimento (1972)

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