sábado, 26 de janeiro de 2013

A Primavera Silenciosa

Eis o texto que sempre recorro e cito, no começo de minhas aulas. Penso que, apesar de ter sido escrito em 1962, ele continua nos inspirando a continuar a luta contra as ameaças ao meio ambiente e à sobrevivência do Homem.

O Livro Primavera Silenciosa (Silent Spring) foi escrito por Rachel Louise Carson (27/05/1907 - 14/04/1964) - é seu livro mais famoso - e completou 50 anos (em setembro de 2012). Foi publicado em português e sua segunda edição é de 1969, pela Edições Melhoramentos.

O que chama, primeiro, a atenção é o surgimento da idéia do livro que viria a ser um clássico da literatura dos estudiosos e curiosos do e sobre o meio ambiente. Rachel conta que, em 1958, ela recebeu uma carta de Olga Owens Huckins, que relata a experiência sobre a destruição do meio ambiente de uma pequena comunidade. 

Essa carta vai de encontro às suas preocupações sobre o tema, que vinham desde os anos 1940, e a sua decisão em escrever o livro "Primavera silenciosa" (Silent spring).

Nessa época, embora Rachel estivesse gravemente doente, a sua carreira como bióloga marinha, o desenvolvimento de pesquisa especifica, que durou 4 anos e a sua experiência na escrita de vários livros (Under the sea wind, publicado em 1941; The sea around us, publicado em 1951; The edge of the sea, de 1955, entre outros);   possibilitaram grandes avanços na área. A escrita de forma acessivel ao público possibilitou a expansão de suas idéias. 

Fonte: http://www.oocities.org/~esabio/cientistas/primavera_silenciosa.htm
Ela escreve: "O mundo dos inseticidas sistêmicos é um mundo estranho,que ultrapassa a imaginação dos irmãos Grimm...É um mundo em que a floresta encantada dos contos de fada se transforma na floresta venenosa em que...uma abelha pode transportar néctar venenoso de volta a sua colméia e, então, produzir mel venenoso" (CARSON, 1969, p.43)

Um dos aspectos centrais de seu estudo (o que até hoje, infelizmente, parece que precisa de maiores evidências cientificas e, na verdade, é um jogo de poderes) é a relação que se estabelece entre as atividades econômicas e os impactos ambientais. No caso do livro de Carson, a relação que existia entre o uso de diversos inseticidas (fosforos orgânicos representados pelo malathion e parathion;  a dieldrina, aldrina e endrina, 50 vezes mais tóxicos que o DDT) e agrotóxicos (em particular o DDT- dicloro-difenil-tricloro-etano, que é um hidrocarboneto clorado) e a perda da diversidade biológica.
Não podemos esquecer que, teoricamente, o ar, a água, os rios e oceanos, solo, subsolo, minérios, entre outros eram tratados como "bens livres".
Além disso, havia um consenso técnico e político de que o progresso econômico e o bem-estar somente seriam possiveis com o domínio da natureza a favor do homem (temos versões sofisticadas dessa forma de pensar, que discutirei, posteriormente).

O paradigma dominante era (?) que a degradação e a destruição do meio ambiente eram inevitáveis frutos do progresso econômico. Lembrem que, em Estocolmo, em 1972, essa foi a posição do Brasil, lider de mais 77 países subdesenvolvidos.
O meio ambiente era tratado de forma, totalmente, independente da reprodução e expansão da economia.

Rachel Carson deu passos importantíssimos no estudo desta relação, com casos concretos relatados em seu livro.

A introdução do livro já chama a atenção: Uma fábula para amanhã.


Escreve ela: "Houve outrora uma cidade, no coração da América, onde a vida toda parecia viver em harmonia com o ambiente circunstante". Nessa cidade, ela escreve, os pássaros cantavam, as raposas uivavam, havia flores, campos verdejantes e "até mesmo no inverno, as margens das estradas eram lugares de beleza...", os rios eram cheios de peixes e atraiam os pescadores....
E o que ocorre com esse paraiso?
Ela escreve que, um dia, uma doença estranha se espalhou pela área toda e tudo começou a mudar. Após mortes e o surgimento de diversas doenças, desconhecidas pelos médicos, apareceu um "estranho silêncio". Os pássaros não estavam mais presentes e os poucos pássaros que se vissem, estavam morrendo e não podiam voar.
"Aquela era uma primavera sem vozes". "Não havia som algum". "As galinhas chocavam, mas nenhum pintainho nascia"; "os leitõezinhos sobreviviam poucos dias"; não ocorria polinização. A vegetação das estradas estava murcha e amarronzada e as margens estavam silenciosas; os peixes tinham morrido (CARSON, 1969, p.12).
A razão disso, escreve Rachel, era um pó branco, granulado (se refere ao DDT), que havia caido sobre as casas, campos e rios. 

"Nenhuma obra de feitiçaria, nenhuma ação de inimigo, havia silenciado o renascer de uma nova vida naquele mundo golpeado pela morte. Fora o povo, ele próprio, que fizera aquilo" (CARSON, 1969, p.13).
Finaliza a introdução com: " Não sei de comunidade nenhuma que haja sofrido todos os infortúnios que descrevo. Contudo, cada um desses desastres já aconteceu, efetivamente, em algum lugar; e muitas comunidades verdadeiras já sofreram, de fato, um número substancial dessas desgraças...Que foi que silenciou as vozes da primavera em inúmeras cidades dos Estados Unidos? Este livro constitui uma tentativa de explicação (CARSON, 1969, p.13).


Ela introduz a relação entre o tempo do Homem e o tempo da natureza e fala dos impactos sobre a geração presente e futura: As substâncias criadas, sinteticamente, pelo Homem "não tem as contrapartes correspondentes na natureza. Para que a vida se ajustasse a essas substancias químicas seria necessário tempo, numa escala que é apenas da Natureza; requerer-se-iam não somente os anos da vida de um homem, mas também da vida de gerações (idem, ibidem, p.17).
Tais pesticidas foram encontrados e retirados da maior parte dos sistemas fluviais, e até mesmo de cursos de água que fluem, sem ser vistos por nós, através da Terra, por vias subterrâneas... foram encontrados em minhocas que perfuram o solo, nos ovos de pássaros e no próprio homem...no leite das mães e, com toda a possibilidade, também nos tecidos dos bebês ainda não nascidos (idem, ibidem, p.25-26).

Uma das repercussões, quase que imediatas, foi que, nos Estados Unidos, após investigação governamental (claro que com grande pressão dos empresários contra o estudo de Carson), foi proibida a produção do DDT e várias leis (estaduais e federal) foram criadas. Posteriormente, foi criada a EPA (Environmental Protection Agency), em dezembro de 1970.

Ela morreu, em 1964, de câncer.

O que tenho a comentar é que há muito tempo estamos apontando aspectos cientificamente comprovados sobre os impactos negativos sobre o meio ambiente decorrentes das atividades humanas que se exercem de forma inadequada e irresponsável não somente com a geração atual como também com as gerações futuras. 

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