quarta-feira, 26 de março de 2014

MAIORES ACIDENTES AMBIENTAIS ANTRÓPICOS



Olá, compartilho informações que precisei, várias vezes, para ilustrar as minhas aulas. No quadro tem alguns dos maiores acidentes ambientais de repercussão internacional e recentes. São apenas alguns mais conhecidos e aqueles que possuem a intervenção humana. Muitos são efeitos de anos de deposição do resíduo tóxico e, além dos efeitos imediatos, muitos persistem por décadas. Vários deles estão no Brasil.

ACIDENTES
ANOS
ACIDENTES
IMPACTOS
Hiroshima e Nagasaki- Japão
6 e 9 de agosto de 1945
Bombas Atômicas
Morte de +200.000 pessoas em segundos, ambiente radioativo por décadas
Minamata- Japão
Maio de 1956
Lançamento de 27 ton. de mercúrio pela Corporação Chisso
Mais de 700 mortos, 9.000 doentes crônicos. Região livre de mercúrio somente em 1997
Seveso- Italia
10 Julho de 1976
Explosão reator e nuvem de Dioxina/pesticida pela indústria ICMESA-Roche, em Meda
Atingiu cidades de Meda, Cesano Maderno, Desio e Seveso 3.000 animais mortos e 7.000 sacrificados
Nova Iorque
1978
21 mil ton. de resíduos tóxicos que emergem no Love Canal, perto Cataratas do Niagara
Todos (centenas de famílias) abandonaram o local, centenas com sinal de intoxicação.
Pensilvania
Abril de 1979
Lançamento de gases e efluentes da Usina Nuclear Three Mile Island
População informada após dois dias
Cubatão -  Brasil
1980
Lançamento de mil ton.de gases tóxicos por dia
Chuva ácida, contaminação solo e água, bebês sem cérebro.
Bhopal-India
2 e 3 de dezembro de 1984
45 ton de gases tóxicos/pesticida da Union Carbide
Abandono da empresa, exposição de 500.000 pessoas aos gases (cegueira, má formação de fetos, defeitos congênitos, etc), 3.500 mortos e 20.000 doentes crônicos (
Cubatão -  Brasil
24 de fevereiro de 1984
Erro transferência de duto de 700 mil litros de gasolina
Contaminação do mangue e incêndio que dizimou vila inteira, 500.000 mortos
Chernobyl –Ucrânia (ex-União Soviética)
26 de abril de 1986
Explosão do Reator 4 da usina nuclear- radioatividade 90 vezes maior que as bombas de Hiroshima e Nagasaki juntas
Gases espalhados pela Rússia, Europa Oriental, Escandinávia, Reino Unido, 29 mortos, 135.000 casos de câncer, 35.000 mortes posteriores
Basiléia – Suíça
1 de novembro de 1986
Incêndio na fabrica Sandoz: a água usada para apagar foi contaminada com + 30 toneladas de inseticidas. Foi para o rio Reno
193 Km do rio morto, 500.000 peixes e 130 enguias
Goiânia – Brasil
13 de setembro de 1987
Césio 137
Morte de 11 pessoas, 600 contaminadas.
Estreito de Prince William - Alasca
24 de março de 1989
Naufrágio do Exxon Valdez e derramamento de 40 milhões de litros de petróleo cru
Espalhamento do óleo por mais de 500 km, matança de centenas de milhares de animais (pássaros, lontras, águias, orcas, bilhões de ovos de salmão)
Iraque e Irã
1950-1990
Drenagem total de 3 dos 4 pântanos mesopotâmicos no Iraque e Irã por motivos políticos de Saddam Hussein
Redução de 90% da cadeia (de 20.000 km2 para menos de 10% até 2003), desertificação, êxodo de quase meio milhão de pessoas,
Mar de Aral- Asia Central do Cazaquistão e Uzbequistão
Começo dos anos 1920
Utilização intensiva para irrigação pela Rússia e Uzbequistão
Desertificação, altíssima salinização, redução em 90% da área em 9 décadas, acabou com a pesca.

Kuwait

1991

Queima deliberada de 600 poços de petróleo por Saddam Hussein, no Golfo Pérsico

Queima por 7 meses, Chuva Negra, 600 km de costa atingida, formação de lagos de óleo, intoxicação  e morte de pessoas e morte de milhares de animais
Rio Grande – Rio Grande do Sul –Brasil
Setembro de 1998
Derramamento de 8.000 toneladas de ácido sulfúrico no mar pelo navio Bahamas
Mortandade
Tóquio-Japão
30 setembro de 1999
Urânio na Usina Nuclear de Tokaimura
Centenas de pessoas expostas e queimaduras
Araruama- Rio de Janeiro
Final dos anos 1990
Eutrofização da Lagoa de Araruama por resíduos domésticos que amentaram nível de amônia e compostos de nitrogênio e fosforo
Morte e decomposição de organismos com diminuição da qualidade da água, alteração profunda do ecossistema
Rio de janeiro - Brasil
18 de janeiro de 2001
Duto da Petrobras, na refinaria Duque de Caxias
1 milhão de litros de petróleo na baia da Guanabara
Costa da Espanha
Novembro de 2002
Naufrágio petroleiro grego Prestige – derramamento de 11 milhões de litros no litoral da Galícia
Sujou 700 praias, matança 20 mil aves
Rio Pomba – Minas Gerais-Brasil
29 de março de 2003
Empresas Cataguases papel e de Floresta – despejo de 1,2 bilhão de resíduos tóxicos no rio Pomba
Contaminação 47 municípios, até o rio Paraíba do Sul, Rio de Janeiro, desapareceu mata ciliar, mortandade de peixes e alevinos e animais
Golfo do México
20 de abril de 2010
Explosão e derramamento de 975 milhões de litros petróleo pela British Petroleum- o maior dos EUA
Dizimação de flora e fauna, matou 11 operários, afetou turismo e pesca,
Ajka-Hungria
4 de outubro de 2010
Diques de contenção de fabrica de alumínio e derrame de 1 milhão de m3 de resíduos tóxicos
Barro vermelho de 2 metros de altura nas ruas de Ajka, morte de 4 pessoas, 123 feridos, milhares de casas e carros destruídos, remoção de 400 moradores
Fukushima-Japão
11 de março de 2011
Vazamento usina nuclear decorrente de Tsunami causado por terremoto de 9 graus
Não se tem a dimensão dos impactos ainda
Fonte: vários documentos, jornais e sites.

terça-feira, 25 de março de 2014

DA RIQUEZA DAS NAÇÕES AO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DA RIO-92.



Discute-se o crescimento, desde antes de Adam Smith, contudo é com a “Uma Investigação sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações, livro mais conhecido como A Riqueza das Nações (1776), que se amplia a discussão no campo da ciência econômica. No mesmo, o progresso das nações dependia da base material, da produtividade econômica considerada tanto função das trocas de produtos entre países que se especializam quanto da divisão do trabalho. Esta visão foi discutida e refinada por vários economistas, como David Ricardo, William Petty, Alfred Marshall.
No final da XX Guerra Mundial, com a necessidade de haver uma medida da capacidade de pagamento dos empréstimos para reconstrução pós-guerra e financiamento de equipamentos se consolidou a quantificação através do Produto Interno Bruto. Com isso, os que tinham maior PIB estavam em melhores condições econômicas ou desenvolvidos e aqueles com baixo PIB eram subdesenvolvidos. Portanto, o conceito de desenvolvimento se disseminou ao mesmo tempo em que o conceito de subdesenvolvimento. Isso implicava afirmar que: a) existem diferenças entre as nações, ou seja, algumas são desenvolvidas e outras em desenvolvimento ou subdesenvolvidas e b) a diferença era devido a evolução da riqueza ou do PIB. Com isso, não é a toa, se desenvolveram, de um lado, as teorias desenvolvimentistas centradas na necessária industrialização. e, de outro lado, as teorias criticas que defendiam que o desenvolvimento era decorrente da exploração dos subdesenvolvidos, das trocas desiguais, entre outras teorias. Ressalto que críticas ou não, todas estavam centradas na industrialização, que discutirei, posteriormente, pois, é bem interessante.
A identidade entre os conceitos de desenvolvimento e crescimento e que se torna dominante,  era tanta que Arthur Lewis, premio Nobel, denominou seu livro de Teoria do crescimento econômico, contudo foi publicado como “Teoria do desenvolvimento Econômico” (1955), no qual mostra que a velocidade de expansão econômica é determinada pela taxa de investimentos e de acumulação no setor moderno (industrial), quer dizer, ele defendia a necessidade de aumentar a produção (via investimentos) e a renda das pessoas, que isto por si só levaria ao desenvolvimento.
Esta abordagem e a perspectiva evolucionista de Walt Rostow (1960), defendiam que o desenvolvimento é um processo linear e positivo e dependente do aumento da produtividade, da modernização,  dominaram a literatura da Economia do Desenvolvimento das décadas de 1950 e princípios de 1960.
Claro que, com o tempo, houve várias críticas e reformulações. As teorias críticas defendiam que o desenvolvimento era decorrente da exploração dos subdesenvolvidos (Frank, 1967), das trocas desiguais (Prebish, 1949 e Singer, 1950), da estrutura de dependência (dos Santos, 1970), do capitalismo periférico (Amin, 1976), entre outras teorias. Ressalto que estas críticas estavam, em sua maioria, centradas no modo de inserção dos países subdesenvolvidos e em desenvolvimento no comércio internacional e na necessidade de desenvolver a industrialização, com a ajuda do Estado com a substituição das importações, que discutirei, posteriormente, pois, é bem interessante.
Academicamente, o que se pode dizer é que a maioria dos economistas interpretava o crescimento/desenvolvimento como um crescimento continuo e positivo, no qual o meio ambiente, em particular os recursos naturais, ou  fazia parte dos fatores de produção ou era relegado a um plano menor.
A falta da preocupação  ambiental  é uma dos aspectos  críticos, que se tem sobre os conceitos de crescimento e de desenvolvimento. Contudo, paulatinamente, começam a surgir.
No nível mundial, começou com Rachel Carson, no livro Silent Spring (Primavera Silenciosa, de setembro de 1962), que trata dos impactos ambientais negativos decorrentes do uso do DDT, Aldrin e outros agrotóxicos, desencadeando uma grande inquietação internacional sobre a perda de espécimes e da qualidade da vida humana. Ela comenta “O desejo do homem de controlar totalmente a natureza é concebido como arrogância e o desequilíbrio dos processos metabólicos e mutações preços altos a serem pagos para não se ter pernilongos”
A tragedia dos Comuns, de Garrett Hardin, publicado em Science, v. 162 (1968), é outra obra extremamente importante.
As discussões sobre o desenvolvimento que abordam/congregam as questões ambientais e ecológicas, nos países ocidentais , ampliam-se com a publicação do relatório "Limites do Crescimento" (Nova Iorque, 1972 ) ou Relatório Meadows, organizado por Meadows, Donella H. e Meadows, Dennis L., com especialistas do MIT. [1]Este relatório teve ampla repercussão nos  meios de comunicação internacional  e, particularmente, na Conferência de Estocolmo, no mesmo ano, pois, defendia o crescimento Zero para conter os desequilibrios e escassez de recursos do planeta. Até então (será que não é até hoje?), os problemas/desastres ambientais são tratados de forma pontual com origem, geralmente, industrial, o que resulta em politicas e tecnologias corretivas.
Além disso, ocorreu ( e ocorre) uma série de desastres ambientais provocados pelo Homem: Fxplosão em uma fábrica de pesticidas em Seveso, Itália (1976); vazamento de metil isocianato em Bhopal, Índia (1984); incêndio em uma indústria química da Sandoz na Basiléia, Suíça (1989), Acidentes nucleares de Three Mile Island, nos Estados Unidos (1979) e Chernobyl (1986),  derramamento de petróleo do Exxon Valdez, no Alasca (1989), so para citar os que todos citam, que resultaram em normas e em revisão dos conceitos de desenvolvimento.
Voltando ao tema central, na Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano, ou Primeira Cupula da Terra, em Estocolmo (1972 ), onde se cria a UNEP , surge o conceito de ecodesenvolvimento, lançado por Maurice Strong, em junho de 1973, e ampliado com as contribuições de Ignacy Sachs (Environment et styles de dévelopement, 1974 ), que alia o desenvolvimento a questões éticas e sociais , de modo que o processo de desenvolvimento deve levar em conta os aspectos ecológicos , culturais e territoriais. Sachs afirma que nada justifica o otimismo tecnológico ilimitado.
Durante os anos 1980, os desastres ambientais, mundialmente divulgados, geraram forte crítica ao ideal desenvolvimentista predominante nas politicas públicas e na racionalidade instrumental. De certa forma, não no ritmo necessário, criou-se um ambiente propicio ao que se denomina " desenvolvimento sustentável", que foi um avnço importante, pois, colocou na agenda internacional questões como: meio ambiente, energia, pobreza, poluição,uso e ocupação do solo, consumo, entre outros.
Em 1980, partindo da necessidade de um crescimento econômico que não torne vulnerável os ecossistemas, a UICN (União Internacionnal para a Conservação da Natureza), o PNUMA  e o WWF (World Wildlife Fund), no relatório Estrategia mundial para la conservación" (1980), introduziu o “conservacionismo” como eixo de ação, pois, não há desenvolvimento se não se preservam os recursos naturais.
Surge o Relatório “Our common future” (1987) ou Relatório Brundtland, elaborado pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD), presidido por Gro Harlem Brundtland (Ministra do Meio Ambiente na época e Primeira Ministra da Noruega, depois), que tratou de temas como desmatamento, pobreza, mudança climática, extinção de espécies, endividamento e destruição da camada de ozônio
Neste relatório está a formalização do conceito mais disseminado de Desenvolvimento Sustentável, ou seja, “O desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento que satisfaz as necessidades da geração presente sem comprometer a capacidade de as gerações futuras satisfazerem suas próprias necessidades” (Comissão, 1988, p. 46)
Apesar do amplo reconhecimento, este conceito é utiliizado para diversos fins e contextos muito diferentes. Pearce y Markandya (1989: 43-44) apresentam vários significados, inclusive, alguns que nada tem a ver com sustentabilidade ambiental.
O relatório Nosso Futuro comum, apesar de haver muitas criticas também tem méritos em abordar e/ou assumir:
a) a abordagem intertemporal e intergeracional , pois, considera não só as necessidades atuais quanto as da futura geração;
b) reconhece que os paises industrializados são os que mais consomem, inclusive, os recursos naturais apontando o caráter predatório;
c) os paises industrializados são os que mais poluem indicando a responsabilidade pelos atos;
d) devido a isso, os paises em desenvolvimento e pobres não devem seguir os padrões dos mesmos (o que de certa forma, questiona as teorias desenvolvimentistas-industrialistas).
e) a natureza tem limites e o desenvolvimento também.
Por outro lado tem criticas:
a) apesar dos ricos poluirem mais e consumirem mais, afirma que os pobres precisam mudar o comportamento. Decorrente disso, vem todos os programas e discursos nacionais e internacionais contra a pobreza e a miséria (que deve ser combatida sim, mas precisa também de responsibilização dos paises mais ricos e só o Protocolo de Quioto não é suficiente)
b) enquanto o ecodesenvolvimento alerta sobre os perigos da crença na tecnologia, o conceito de desenvolvimento sustentável defende a tecnologia moderna, menos impactante que deve, inclusive, ser assimilada pelos países subdesenvolvidos. Quer dizer, a tecnologia sustentável, os produtos sustentáveis tem um potencial de mercado enorme.
O conceito de Desenvolvimento sustentável do relatório é amplamente discutido na Rio-92 ou a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), no Rio de Janeiro. Discutiremos a seguir


[1] Em 1968, nasce o Clube de Roma, liderado por Peccei, que tinha a preocupação em encontrar respostas para problemas como a industrialização, alimento, crescimento demográfico, energia, pobreza e meio ambiente e contratam especialistas do MIT, que elaboram o relatório Limites do crescimento (1972)